Os autores, Cão Guimarães e Pablo Lobato, construíram um poema com o nome de 20 pequenas cidades de Minas Gerais. O documentário é uma colagem de pequenos curtas, por assim dizer. Um em cada cidade. Em cada um, o sentimento dos autores está plasmado nos cortes, no som, nas cores, nos enquadramentos. Não é necessário ler ou escutar nenhum texto escrito pelos dois diretores para entrar com eles nessa viagem poética e crítica por vilas mineiras.
Logo na primeira parada, o filme é bem claro em suas intenções. A cidade é Heliodora. Os planos são noturnos, bem escuros. O personagem é um simpático travesti que canta afinado e vive meio isolado, meio renegado, em busca de aceitação e amor romântico. Ele conversa, segurando uma vela e andando. Leva na mão, sua própria luz para o filme. A luz é mínima, não se vê bem sua casa; afinal Heliodora vive meio escondida. A cidade não quer saber onde ela mora. Depois de quase cinco minutos de filme, uma nova cidade: Virgem da Lapa. Heliodora e seus habitantes ficaram pra trás. Já os limites da aceitação e do convívio na comunidade interiorana mineira, não. Seguem na memória sensorial do espectador. Mesmo se o poema nao estivesse escrito em palavras, seria possível desfrutar-lo; já que está plasmado na montagem. Veja aqui a primeira cidade do doc.